Durante uma
viagem de trem, com meu amigo Rodrigo Ricardo e outras pessoas, surgiu à
necessidade de explicar a nossa religião; eu não sou a primeira e nem serei a
ultima wiccana pega nessa “saia justa”, mesmo em uma conversa informal é
complicado escapar quando o assunto já foi estabelecido... não dá simplesmente
pra dizer “então é complicado... te explico outra hora...” quando se tem quase
2 horas de percurso pela frente. Todo mundo tem aquela tia chata, o primo
curioso, o amigo neófito... e muitas vezes ate quem já esta no caminho sente a
necessidade de repassar tudo outra vez (mim), porque somos assim!!! Eternos
aprendizes.
A primeira ruptura, e talvez a mais difícil de aceitar, é
que não temos uma instituição que decida
por nós no que iremos acreditar ou não e o que podemos ou não podemos
fazer; pode parecer exagero meu, mas é ai que começa a cama de gatos; as
pessoas estão acostumadas a receber o conhecimento pronto... para algumas
pessoas é inimaginável a existência de uma religião sem a “estrutura” adotada
pelo cristianismo (note que não estou dizendo que não temos dogmas ou “regras”),
existe muita discussão sobre quem são os wiccanos e as principais tradições,
mas vou me ater ao que aprendi ate o momento, com base unicamente nas minhas
práticas espirituais pessoais e algumas vezes compartilhadas com meus amigos
que me ensinaram e ensinam muito...
Eu sou Pagã
e Wiccana. Escolhi acreditar (tenho fé) que fui criada por uma energia com duas
polaridades – Feminina e Masculina - e a essas polaridades dei o nome de Deusa
e Deus (simplificando muito... lembre-se que estou no trem). Celebro a mudança
das estações, com cânticos, danças, meditações, festas, rituais entre outras
formas; Celebro, portanto o giro da Roda
do Ano.
A Roda do
ano pode ser compreendida por qualquer pessoa que souber os conceitos de Representação,
Simbolismo, Mito e tiver alguma percepção do mundo/natureza que o cerca... ( =P
2ª dificuldade na conversa)
Conceito de Representação: s.f. Ato ou
efeito de representar. / Exposição, exibição. / Idéia que concebemos do mundo
ou de uma coisa. / Ato de representar, de desempenhar papéis em teatro:
representação de uma comédia, de um drama. / Reprodução por meio da escultura,
da pintura, da gravura: representação de uma batalha. (..)
Conceito de Simbolismo: s.m. Conteúdo
ou interpretação dos símbolos. / Sistema de símbolos que expressa fatos ou
crenças de um povo. / Sistema de signos escritos cuja articulação se dá segundo
regras, e que traduz visualmente a formação de um raciocínio.
Conceito de Mito: s.m. Narrativa
popular ou literária, que coloca em cena seres sobre-humanos e ações
imaginárias, para as quais se faz a transposição de acontecimentos históricos,
reais ou fantasiosos (desejados), ou nas quais se projetam determinados
complexos individuais ou determinadas estruturas subjacentes das relações
familiares. / Fig. Coisa fabulosa ou rara: a Fênix dos antigos é um mito. /
Lenda, fantasia. / Fig. Coisa que não existe na realidade.
Conceito de Mundo: s.m. Conjunto
de tudo que existe. / Terra, lugar onde vive o homem. / Fig. Conjunto de todas
as crianças. / Número indefinido de pessoas. / Conjunto de indivíduos que
formam um agrupamento humano determinado. / Conjunto de pessoas notáveis pela
sua origem, pela fortuna, pela situação social. / Vida secular: trocar o mundo pelo
claustro. // Ir para o
outro mundo, morrer. // Todo (o) mundo, a totalidade ou a maioria das
pessoas. // Velho Mundo, Europa, Ásia e África. // Novo Mundo, a América. //
Fim do ou de mundo, lugar afastado. // Correr mundo, viajar muito. // Homem,
mulher do mundo, homem ou mulher que tem o hábito de freqüentar a boa
sociedade, que conhece os hábitos elegantes. // Pôr no mundo, dar à luz, fazer nascer.
// Um mundo de..., uma grande quantidade. // Vir ao mundo, nascer. // (...)
Conceito de Natureza: s.f. Conjunto
de coisas que existem realmente. / Mundo físico. / Condição própria, essência dos seres. /
Organização de cada animal: a natureza do peixe é viver na água. / Conjunto de
caracteres particulares, de disposições que distinguem um indivíduo. / Espécie,
tipo: objetos de natureza diferente. // Teologia cat. Estado de natureza,
estado natural do homem (por opos. a estado de graça).
(conceitos
retirados do Aurélio Online).
...pois é...
Ate ai o pessoal já estava babando de curiosidade pra saber o que era essa
bendita Roda do Ano (me compliquei). Antes do Mito dei um exemplo simples, rememorando as
primeiras lições de ciências na escolinha... Já fizeram a experiência do Feijão
plantado no algodão?! A Tia basicamente orientava a molecada a plantar alguns
grãos de feijão no algodão e outros na terra, regar periodicamente, manter na
luz do sol e acompanhar o desenvolvimento do grão em plantinha.
Já li
diversas versões do Mito da Roda do Ano, algumas super elaboradas e outras mais
simples, mas todas com muita riqueza no simbolismo. Usando então o poder da
abstração (que é inerente a todos os seres humanos), sabendo que os Deuses são primeiramente
ENERGIA e com meu exemplo do desenvolvimento das plantinhas na cabeça, temos
metade do caminho percorrido, pois todos os mitos da roda do ano estão
centrados nas figuras da Deusa e do Deus, que representam os princípios fundamentais
da natureza.
Ela (a
Deusa) é a própria Terra e mãe dos frutos, Ele (o Deus) é o sol e senhor da
energia vital, juntos são os detentores do poder da criação. A Roda do ano
assim como tudo no mundo é infinita, mesmo a planta que morre alimenta e aduba
a terra; a morte é sempre o começo de outra vida, porque sempre existira o vestígio
do que aqui existiu. A Roda do ano é, portanto e basicamente a mudança das estações
do ano.
No mito,
partindo do final do inverno, a Deusa e o Deus estão retornando da sua jornada
anterior, a Terra se recupera da estação infrutífera e de seu recolhimento e o
Sol brilha timidamente no céu se aproximando da terra; esse é o momento em que
o Deus nasce da Deusa e é por ela alimentado, ensinado e protegido.
O tempo passa e é chegada a primavera, o Deus-Sol esta
renovado e ganha força e calor, e a Deusa-Terra que havia se recolhido esta
novamente jovem e fértil, ela esta plena e derrama seu sangue sagrado sobre a
terra e todas as coisas. A semente é plantada pelo Deus no útero da Deusa, ela guarda então a
promessa do retorno da vida e o Sol nutre e protege a Terra em sua plenitude.
Passada a Dança da primavera, o outono se aproxima juntamente
com as primeiras colheitas, a força do Deus-Sol vai diminuindo e ele inicia seu
caminho ao submundo, os últimos grãos são colhidos para fornecer a energia necessária
para o inverno que se aproxima. O Deus-Sol-Pai faz a travessia, mas estará
novamente vivo no útero da Deusa. A Deusa-Terra-Mãe recolhe-se e aguarda o
momento para reiniciar o novo ciclo dando a luz novamente ao Deus-Sol.
Bonito, né?! E é principalmente SIMPLES. Os mitos são
necessários em todas as religiões, é isso que as torna “possíveis” e passives
de gerar a fé... Entretanto não adianta nada um mito que VOCÊ não consiga dar
nenhuma aplicabilidade no cotidiano (já que a função do mito é demonstrar
alguma coisaaaaaaa!!!) pra mim ser Pagã é antes de mais nada um estilo de vida, não é
fazer poções e encantar pessoas, é saber que tudo que eu acredito de alguma
forma esta ligado as minhas decisões, seja na maneira em que me visto, no que
eu bebo ou no que eu como em determinadas épocas do ano... comer feijoada, em
um puta pico de verão, vestindo uma blusa de frio e galochas não faz o menor
sentido pra mim.
É isso, eu não tinha a intenção
de escrever um texto tão longo, mas aconteceu. ^^
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Autor(a):
Jak-Sofia.
www.dancando-no-ar.blogspot.com
Referencias:
Priberam (dicionário virtual)
www.priberam.pt
Ahhhh uma explicação simples e perfeita, não existe uma colocação melhor..
ResponderExcluirSer pagão é isso... As estações (Roda do Ano) estão em nos mesmos...
Obrigado pelo presentão Sofia... )o(
Que os Deuses te abençoe sempre!!!!